Demorei um pouco a postar esta notícia...não por esquecimento ou falta de importância mas porque doi sempre perder um amigo...as palavras enrolam-se e os nós têm de ser desfeitos antes de as podermos pronunciar. O Puppy partiu...mais um amigo que nos deixou :'(
O Puppy era um velhote super bem-disposto e tinha sempre um sorriso à nossa espera no canil. Meigo como era estava sempre pronto para dar e receber uns miminhos ou, claro, comer uma guloseima ehehe Aturava com a paciência da idade todas as malandrices dos mais novos e era o cãopanheiro de passeios do nosso amigo Pitágoras. O Puppy nunca se chateava com nada e, como qualquer cão sénior, adaptou-se perfeitamente à nova vida com os donos, tendo criado com eles uma ligação especial.
Do Puppy, volto a deixar o relato sobre toda a experiência da adopção escrito na 1ª pessoa. Um relato que nos foi enviado pela dona uns meses após a adopção e que tem no fim umas palavras da própria que, já na altura, diziam tudo...a promessa foi feita e cumprida: eles fizeram a diferença, compensaram a tua existência e estiveram contigo até ao fim...todos nós, que te conhecemos, sentimos a tua ausência. Até um dia amigo...
"Puppy:
«A porta do canil abre-se, um novo ano lectivo está a começar na faculdade e se calhar é por isso que não estou a reconhecer estas raparigas novas que têm vindo cá limpar as nossas boxes e levarem-nos a passear. Nota-se tão bem quando são do primeiro ano, vêm todos cheios de sonhos e aspirações para o futuro, pensam que o mundo onde acabaram de entrar é perfeito e que todos têm os mesmos objectivos: ajudarem-nos, a nós e a qualquer irmão que também precise. Mas os anos que já vivi ensinaram-me que nem sempre é assim, as pessoas vão-se desmotivando de nós, vão-se conformando com o facto de sermos estagiários permanentes neste curso em que não escolhemos entrar: a vida.
Mas este ano parece diferente, há algo no ar, não sei. Se calhar é a idade que já me atraiçoa!
Tenho visto irmãos meus partir e pergunto-me sempre se serei o próximo…pergunto-me também se, quando for, estará alguém comigo, sentirá alguém a minha partida?
Porém espero com fervor que os meus instintos estejam correctos! Afinal de contas, foi sempre isso que me valeu… Vá lá, meu velho, mais um dia e ainda aqui estás, um dia a sorte ainda te sorrirá!»
Até que, certo dia…
«Humm, a esta hora não costuma vir aqui ninguém, estranho...Vejo muito rebuliço e vêm direitos à minha box. É a minha amiga de sempre, a Sofia, que cuida de nós há tantos anos, ela há-de ser uma excelente médica! Mas vem outra pessoa com ela, é uma das raparigas novas, ela tem uma trela na mão e está a pôr-me uma coleira nova. Saio da box e ouço palavras como adopção de fins-de-semana, apadrinhamento…não faço ideia no que me estão a meter, mas se a Sofia está com ela é porque estou seguro. Vamos lá Puppy, talvez hoje seja o dia! Era bom demais…»
Chegado a casa…
«Chego a um local, não sei bem como o descrever…é grande, pelo menos quando comparado com a minha box, tem mais duas pessoas lá e uma cadela em que mal reparo por ser tão pequena e escura (algo me diz que ela não gosta muito de mim, mas o truque que as ruas me ensinaram foi não dar confiança).
Que grande confusão que para aqui vai! Toda a gente a pegar-me e a lavar-me, estou velho para isto!
De repente tudo se acalma. Vou direito ao sítio que me parece mais seguro e confortável: uma almofada gigante que estava mesmo ali à frente (acho que lhe chamam cama). Horas depois levam-me à rua (estava mesmo a precisar) e ouço uma troca de palavras entre as gentes daquela… casa, que terminam com um grande sorriso de ambas as partes. Não apanhei muito bem mas pareceu-me tratar-se de mudar o meu regime de adopção aos fins-de-semana para uma adopção efectiva…Para mim tanto me faz, com esta idade não se pode ter muitas exigências!»
Presente data…
«Que posso eu dizer? Lembrando-me do que passei e de como estou agora, sinto-me o cão mais sortudo de todas as boxes do Mundo! Ainda me é difícil largar os hábitos da vida antiga, o meu coração ainda se sente sem-abrigo às vezes e, de vez em quando, tenho pesadelos em que tudo isto não passa da minha imaginação a pregar-me os truques típicos da velhice. Mas depois acordo do pesadelo com alguém a segurar-me a pata, ou abraçado a mim a fazer-me festinhas na testa e… respiro fundo.
Vá lá, meu velho, mais um dia e ainda aqui estás - espero nunca daqui sair!»
Dona:
E pronto, aqui está a minha, talvez destorcida ou ingénua ideia, do que vai na cabeça do meu velhote. Quanto à minha experiência pessoal não preciso de escrever um grande texto sobre isso, porque a ideia é simples e directa: adoptar um cão abandonado ou de canil (infelizmente, às vezes, a diferença não é assim tanta) é mais do que gratificante, é assistir à criação de uma cumplicidade que fica para a vida, seja ela longa ou menos longa. Não interessa se estás velho ou se poderás morrer amanhã, o que interessa é que HOJE fizemos a diferença um ao outro e que o HOJE pode ter compensado toda a tua existência. E sim Puppy, estaremos sempre contigo até ao fim! E não duvides que a tua ausência será por todos nós sentida, um dia, muito longe deste…"
Ana Rita Gomes
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